Docente narra sua trajetória como pesquisador em olericultura

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Paulo Cesar Tavares de Melo atuou no departamento de Produção Vegetal (crédito: Gerhard Waller)
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Paulo Cesar Tavares de Melo é paraibano. Nascido em João Pessoa em 1948, formou-se em 1972 na então Escola de Agronomia do Nordeste (hoje Centro de Ciências Agrárias da UFPB – Universidade Federal da Paraíba).

Em 1973 começou a trabalhar no Instituto Agronômico de Pernambuco – IPA, na Estação Experimental de Jatinã, no Vale do São Francisco, para atuar com projetos de melhoramento de cebola e tomate industrial. Nessa oportunidade, passou a interagir com o professor Cyro Paulino da Costa, da Esalq, que assessorava o projeto de melhoramento de hortaliças que envolvia o IPA, a Sudene (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste) e o Banco Brasil-Canadá.

“Essa foi a minha primeira interação com a Esalq, com o professor Cyro Paulino da Costa. Eu era o encarregado de fazer a seleção dos dados e até então, em 1973, eu não tinha a menor ideia do que era a Luiz de Queiroz”.

Em 1974 foi fazer o mestrado em Piracicaba, orientado pelo professor Cyro, e começava assim a trajetória do professor Paulo Cesar e seu envolvimento com a Esalq. “No mestrado trabalhei com o projeto de melhoramento da cebola tropical. Terminei o mestrado em 1978, mas ainda continuei trabalhando no Vale do São Francisco”.

Com a descontinuação de alguns dos projetos nos quais estava envolvido em Pernambuco e a dispensa dos pesquisadores, a interação com a Esalq aumentou em 1984, quando ingressou no doutorado. “Assim como no mestrado, fui fazer o doutorado no Programa de Genética e Melhoramento de Plantas na Esalq, também orientado pelo professor Cyro Paulino da Costa. Me lembro que liguei para ele perguntando se ele me aceitava como orientado no doutorado e ele respondeu que eu poderia arrumar as malas e vir para Piracicaba. Nessa época também conheci minha esposa, Arlete. Compartilhávamos uma mesa na sala de orientados do professor Cyro. Então além de meu mestre inspirador, costumo dizer que o professor Cyro atuou até como cupido na minha vida. Devo grande parte da minha formação a ele e ao professor Luiz Jorge da Gama Wanderley, lá de Pernambuco. Eles foram meus dois mentores”.

Entre 1986 e 2000, o professor Paulo Cesar atuou como pesquisador melhorista na Estação Experimental de Pesquisa com Hortaliças em Paulínia (SP) da Asgrow Seed Co. “Ali abriu-se uma nova perspectiva na minha vida profissional, passei a me relacionar diretamente com o mercado”

A primeira experiência docente ocorreu com a aposentadoria do professor Cyro. “Ele se aposentou e como estava conduzindo uma disciplina de melhoramento de hortaliças, ele reuniu uma série de ex-orientados para que cada um de nós cuidasse de um segmento junto aos alunos. Eu estava na iniciativa privada e ter esse primeiro contato com alunos de graduação e pós-graduação na minha área foi uma experiência incrível. Eu trabalhava com o desenvolvimento de novas variedades de tomate, cebola, cenoura, alface e levar isso para a sala de aula foi muito positivo”.

No ano de 2000, com o encerramento das atividades na estação experimental em Paulínia, Paulo Cesar foi contratado como assessor internacional do IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura) em Brasília. “A partir de então atuei como pesquisador na Embrapa Hortaliças, em Brasília. Ali tive a oportunidade de enriquecer profissionalmente já que tive contato com grandes pesquisadores que já haviam dado muitas contribuições para a olericultura brasileira”. No ano seguinte, segundo semestre de 2001, surgiu finalmente a real possibilidade de se estabelecer em Piracicaba. Prestou concurso para docente e, aprovado, ingressou ainda em agosto do mesmo ano como docente do departamento de Produção Vegetal da Esalq. “Eu estava em Brasília, mas minha família continuava em Campinas. Inclusive na mesma época eu fui aprovado em um concurso na Embrapa, fui chamado para assumir minhas funções, mas optei pela Esalq”.

Além do professor Paulo Cesar, o departamento contava na área de olericultura com outros dois docentes. “Essa área na Esalq contava com o professor Keigo Minami e com o professor João Tessarioli Neto. Em 2003 o professor João faleceu, foi muito triste, nós éramos amigos desde o tempo do mestrado e então tive que assumir disciplinas que o João tomava conta”.

Durante sua trajetória como docente, sempre atuou, na graduação e pós-graduação, com as disciplinas na área de olericultura. “Ministrei aulas e orientei estudantes no Programa de Pós-graduação em Fitotecnia e sempre procurei trazer para os alunos o conhecimento prático que marcou minha carreira. Desde a época que atuava como melhorista, sempre defendi que precisamos consultar os produtores, estarmos próximos das demandas do mercado”.

Na esfera da extensão, o docente destaca seu envolvimento em atividades desenvolvidas na Casa do Produtor Rural. “A Casa do Produtor é um exemplo de trabalho de extensão e assim posso dizer que me realizei no ambiente acadêmico, pois pude interagir com os estudantes, que sempre nos desafios e continuar nos aperfeiçoando e, ao mesmo tempo, minha atuação como colaborador na Casa do Produtor permitia ter contato com os produtores, o que sempre me deu muita satisfação”. Em maio de 2021, o docente lançou o e-Book "Cultivo de Cenoura em Condições Tropicais e Subtropicais", seu mais recente trabalho realizado em parceria com a Casa do Produtor Rural.

Fora do ambiente acadêmico, foi presidente por dois mandatos da Associação Brasileira de Horticultura. “Os trabalhos como extensão, as palestras que ministrei e o contato com a prática me deram uma experiência muito grande e me ajudou no meu trabalho na Esalq”.

Em agosto de 2020, Paulo Cesar Tavares de Melo se aposentou. “Já estava com 50 anos de trabalho e comecei a me planejar para parar. Assim, quando me aposentei, meus orientados na pós-graduação já haviam defendido suas dissertações e teses e assim decidi que era hora de ‘voltar para casa’. Assim encerrei minha trajetória na Esalq”.

Em junho deste ano, o professor Paulo Cesar foi empossado como membro titular da Academia Brasileira de Ciência Agronômica (ABCA), ocupando a 64ª cadeira. “A minha indicação à Academia, além de ser uma importante conquista pessoal, representa também um reconhecimento pelos meus 50 anos de atividades como pesquisador e docente nas áreas do melhoramento genético e fitotecnia na ciência da olericultura. Reconheço que não teria a concessão dessa tão nobre láurea sem a ajuda dos colegas pesquisadores, professores e extensionistas com os quais tive a oportunidade de trabalhar em união nos setores público e privado. Esse apoio foi fundamental, ao longo de minha carreira, à geração de conhecimentos científicos e de tecnologias que contribuíram para o desenvolvimento do agronegócio de hortaliças no país”.

Em sua residência em Campinas, dedica-se ainda à finalização da obra “História das Hortaliças no Brasil – de 1500 aos tempos atuais”. “Estou terminando o livro e espero continuar contribuindo com o desenvolvimento da agricultura no Brasil”.

Texto: Caio Albuquerque (26/06/2021)